O Mecanismo: mapeamos todas as referências que você não percebeu

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A série de José Padilha sobre a Operação Lava-Jato se envolveu em um mar de polêmicas desde que foi lançada. Mesmo deixando a guerra ideológica de lado, ainda assim é difícil acompanhar o ritmo de referências que são jogadas o tempo inteiro na cara do telespectador (algumas com claros traços de tiração de sarro, outras mais críticas). Se você se perdeu tentando manter o fio da meada entre trocadilhos e mudanças de nome, não se preocupe: mapeamos cada um dos principais vinte e três personagens (e os detalhes por trás deles) que passaram pela tela durante os 8 episódios de O Mecanismo.

Polícia Federal e a Justiça

A série optou por começar em 2003, com o escândalo do Banestado, no Paraná. E no início, é tudo preto no branco: os policiais federais são os heróis absolutos. Os bandidos, uma gangue caricata que acaba escapando pelos dedos dos mocinhos graças à burocracia e a má vontade do Ministério Público (que passa a série toda sofrendo uma crítica velada). Gerson / Ruffo O delegado Gerson Machado é uma das figuras menos famosas da vida real a inspirar a série. Investigou Alberto Youssef (mais sobre ele abaixo) no Banestado, mas se aposentou antes da Lava Jato começar – e ficou deprimido. Já a maluquice de Marco Ruffo (e sua voz sussurada) são contribuições exclusivas de Selton Mello à ficção. Verena / Erika A delegada Erika Mareno, a inspiração por trás da protagonista Verena, recebeu o crédito por nomear a Operação Lava-Jato, da qual participou de 2013 a 2016. Depois de sair da força-tarefa, ela se envolveu em uma polêmica ao investigar o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, que cometeu suicídio. Essa semana, foi empossada como superintendente da PF em Sergipe. Juiz Paulo Rigo / Sérgio Moro Moro é um dos heróis da série, naturalmente. Seu personagem é metódico, sereno e apaixonado pela Justiça. Mas não se trata de um arquétipo da perfeição: os últimos episódios revelam um Moro embriagado pela fama, que adota uma nova assinatura para dar autógrafos mais marcantes e regozija-se com os panelaços – que não são tratados pelo roteiro como manifestação de indignação justa, mas de ingenuidade dos eleitores que tinham votado em Aécio – quer dizer, em Lúcio.

Em uma das referências mais discretas da série, Rigo é visto lendo na cama uma espécie de graphic novel de uma versão alternativa do Batman – uma alusão ao papel de “vigilante da justiça” que já foi atribuído a Moro.

A equipe Guilhome não tem lastro exato em uma pessoa real. A relação com Anselmo vem da prisão de Alberto Youssef – o delegado foi responsável pela ligação telefônica que localizou o doleiro, essa sim real. Youssef foi preso em 2014 – no Maranhão, não em São Paulo. E a mala de dinheiro que ele levava, no hotel com vista pro mar, continha R$ 1,4 milhão. E estava endereçada não a uma campanha presidencial, mas a um secretário do governo maranhense, na gestão de Roseana Sarney. Por fim, o famoso Japonês da Federal. Na série, (no ápice do politicamente incorreto) ele é o China. A insinuação nada velada de sua incompetência aparece logo no segundo episódio. O China “morre” pelo estômago, no maior clichê americano do policial preguiçoso – falta só o donut. O cafézinho ele já tem.

Doleiros e capangas: os primeiros acusados

O primeiro elenco de vilões apresentado pela série são os acusados originais da Lava-Jato – aqueles que, de fato, disfarçavam suas operações de lavagem de dinheiro num posto de gasolina em Brasília. Nelma Kodama tentou sair do país com 200 mil euros escondidos na calcinha – um truque que é usado com prostitutas na série para distribuir dinheiro pela capital. Carlos Habib Chater, que na série virou Chebab (são várias as piadas com comida árabe) foi o primeiro das dezenas de presos da Operação. E, como a realidade tende a ser ainda mais surreal que a ficção, assim que Chater saiu da prisão, voltou a gerenciar o posto de gasolina onde tudo começou.

Família pouco unida – e muito ouriçada

De forma idêntica à vida real, a trama da série ganha uma nova dimensão política quando o diretor da Petrobras(il) vê seus esquemas desmascarados por uma Evoque. Paulo Roberto Costa foi pego pela nota fiscal do carro que ganhou de Alberto Youssef por R$ 250 mil (desarrendondado para R$ 251 mil na série). A família inteira dele segue implicada na Lava Jato. Mas na série suas duas filhas foram fundidas em uma só, assim como seus genros. Shanni e Arianna Bachmann foram fundidas para virar Shayenne (uma das paródias de nome mais toscas de O Mecanismo). O marido dela, Ricky, é uma mistura de Márcio Lewkowicz, casado com Arianna, e Humberto Sampaio de Mesquita, falecido marido de Shanni. Os quatro foram flagrados por câmeras de segurança carregando sacolas de documentos que incriminariam Paulo Roberto (essas imagens, inclusive, você vê à direita na imagem acima).

Brasília: o núcleo mais esperado

É nas paródias dos políticos que a série tem sua veia mais cômica. Naturalmente, foi a parte mais polêmica. A série, porém, pega  mais pesado com Aécio do que com Dilma e Lula. Cheio de tremeliques, drinks e mãos bobas, o senador mineiro surge praticamente como um vilão de desenho animado.

Ex-Presidente João Higino / Lula A maior polêmica na repercussão da série se refere à frase de Jucá (“temos de estancar essa sangria”), que em O Mecanismofoi parar na boca de Lula. A escolha gerou um ruído que poderia ter sido evitado. Mas o Lula da vida real foi até mais duro que o da ficção. Chegou a dizer, no telefonema grampeado para Dilma: “Temos um presidente da câmara f… Um presidente do Senado f…. E fica todo mundo num compasso de que vai acontecer um milagre e salvar todo mundo”. O Lula da série é mais calado e reflexivo que o de São Bernardo. Talvez a cena mais forte que envolve sua versão ficcional, o João Higino, não seja a da fala da “sangria”, mas uma em que ele recebe de presente o triplex, imóvel que seria o pivô de sua condenação na vida real.

Não é à toa que Lula chama “Higino” na série. Esse é o nome de de um escravo da Roma Antiga que, depois de liberto pelo Imperador Augusto, virou funcionário público de alto escalão.

Presidenta Janete / Dilma Roussef

Depois de receber críticas de Dilma pelo transplante da fala de Jucá, Padilha chegou a dizer que a petista “não sabia ler”, já que existe um disclaimer antes de cada episódio dizendo que a série é uma obra de ficção. O cineasta, porém, foi mais suave no trato com Dilma dentro da série do que fora. Tirando uma piada logo no primeiro episódio, em que a mandatária anuncia uma tecnologia da Petrobras para “estocar vento”, não há referências aos discursos mal ajambrados ou à recessão econômica – que já tinha começado em 2014, quando acontecem os fatos centrais da série. O roteiro até diz que o melhor para a Lava Jato é a reeleição de Dilma. Não por ética da ex-presidente, mas por soberba, já que ela se entenderia como inatingível. Ainda assim, sua manutenção no poder aparece como algo positivo para a continuação da Lava Jato. O impeachment, que começa a ser maquinado nesta temporada, é retratado como uma trama movida por Aécio e Temer para estancar a operação da PF.

Lúcio Lemes / Aécio Neves

Se os apoiadores de Lula e Dilma partiram para a briga contra a Netflix, com Aécio não teve nada disso. Mas não se engane: a série foi atômica contra o mineiro. Nas primeiras cenas em que o tucano surge, o narrador avisa que se trata de um bandido. Ponto. Depois piora: Aécio aparece como um alcoólatra terminal e viciado em anfetaminas. Se ninguém reclamou da forma como Aécio é retratado, então, só há um diagnóstico: o tucano está morto para a política – na vida real, foi pego pela Operação Patmos, uma braço da Lava Jato. Frederico Pacheco, primo do tucano, foi filmado recebendo R$ 2 milhões da JBS. Aécio tinha sido gravado combinando com Joesley Batista a entrega desse mesmo dinheiro ao primo, num telefonema em que diz ao dono da JBS, como adendo humorístico, que Fred era um bom comparsa, já que “seria fácil matá-lo antes de uma delação premiada”.

13 homens e muitos segredos: os empreiteiros

A série é fiel à linha do tempo das delações das empreiteiras. A primeira grande delação foi a de Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, dono da Toyo Setal engenharia. Foi ele, que aparece na série como o fumante inveterado Silvério, que contou à PF sobre o “Clube das Empreiteiras”. Na série, ele é chamado de “Clube dos 13”, em referência ao sindicato dos maiores clubes de futebol do país. Na vida real, eram 16 as empresteiras cartelizadas. Como mostra Silvério/Augustro, as maiores construtoras do País combinavam preços e dividiam entre si as grandes licitações de obras públicas, principalmente aquelas que envolviam a Petrobras. Uma das empresas membro do clube, a Galvão Engenharia, deu origem ao melhor trocadilho da série. Virou “Bueno Engenharia”.

A derrocada da rainha das empreiteiras, a Odebrecht, começou como os últimos episódios da temporada insinuam: com a delação de Maria Lúcia Tavares, secretária de Marcelo Odebrecht (que quem não encerrou a conta da Netflix verá atrás das grades na próxima temporada). Ricardo Pessoa, da UTC, teve um destino mais suave: depois de delatar duas dúzias de políticos ganhou na hora o direito de cumprir sua pena de 8 anos em casa. Leo Pinheiro, da OAS e do triplex, teve sua pena reduzida de 10 anos para 3,5, em regime semi-aberto, após depor contra Lula.

 

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Fonte: Super Interessante

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