Quebra da safra de grãos nos Estados Unidos vai impactar inflação no Brasil

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A seca histórica que atinge as principais regiões produtoras de grãos dos Estados já está fazendo com que economistas comecem a revisar os cálculos de inflação e as expectativas sobre a taxa de juros no Brasil. Devido à quebra na produção americana de soja, milho e trigo, o preço dessas commodities disparou no mercado internacional nas últimas semanas. Base de uma vasta gama de alimentos – da carne de frango a um simples biscoito recheado – os grãos prometem ser os vilões da inflação brasileira e mundial neste e no próximo anos.

“O mundo está completamente interligado, e essa seca nos EUA evidencia isso. Por mais que pareça que está distante do Brasil, não tem como não sermos afetados,” diz Edgar Beauclair, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP. Na prática, a cada 10% de aumento dos preços globais das commodities agrícolas, definidos na bolsa de Chicago, nos EUA, a inflação brasileira medida pelo IPCA aumenta em 0,8 ponto percentual, segundo cálculo do economista Affonso Pastore, apresentado no estudo “Does The Central Bank Want To End The Easing Cycle?”, publicado pela empresa de pesquisa Global Source Partners em 24 julho deste ano. Apenas nos sete primeiros meses de 2012, o preço da soja já subiu 36%, por exemplo.

Pastore questiona a continuidade dos cortes da taxa de juros no Brasil após a seca norte-americana. Na opinião dele, não faz sentido cortar a Selic para um nível inferior a 7,5% ao ano diante dos aumentos de preços. A aposta dele é de um corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom, no final de agosto, e manutenção da taxa em 7,5% ao ano até o final de 2012, pelo menos. Isso porque os juros mais altos são uma forma de manter a inflação sob controle, já que desencorajam as pessoas a tomar dinheiro emprestado para gastar. Assim, consomem menos e as empresas tendem a se ver forçadas a baixar preços (ou, ao menos, deixar de aumentar) para atrair os consumidores de volta.

E os preços das commodities agrícolas devem continuar subindo. Na estimativa do Itaú Unibanco, as condições ruins das colheitas nos EUA ainda vão levar a um aumento de mais 30% no preço do milho e mais 10% na soja até o final do ano.

Com isso, fatalmente o rendimento das empresas brasileiras que dependem de soja, milho e trigo será comprometido, na opinião de especialistas. Entre os mais prejudicados devem estar os produtores de carnes, uma vez que o milho é um dos principais componentes da ração de suínos, bovinos e aves. “A tendência é que as empresas repassem os maiores custos ao consumidor final, mas dependendo de como estiver o mercado domestico, a indústria só consegue repassar uma parte e precisa absorver a diferença,”diz Otto Nogami, professor de Economia do Insper. Como atualmente a economia não está em seus melhores momentos – e a renda e o emprego já não estão crescendo como antes -, as companhias terão que absorver parte dos custos. “O consumidor tem um apetite para pagar. Se o preço de um produto alimentício aumenta em R$ 1, por exemplo, diminui o consumo,” acrescenta José Rezende, sócio e líder de agribusiness da PricewaterhouseCoopers (PwC) Brasil.

Diante da situação, na última semana representantes do setores de frangos, suínos e óleos estiveram em Brasília em reunião com o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Eles pediram ajuda para enfrentar os problemas recentes.

Na estimativa de Mauro Rochlin, professor de Economia do Ibmec, os repasses aos consumidores podem chegar a 30% tanto no caso de alimentos, tanto no atacado como no varejo. É o suficiente para elevar o preço da garrafa de 900 ml de óleo de soja de cozinha, por exemplo, em R$ 1, dos atuais R$ 3,30 para R$ 4,30. Há poucos dias, as duas maiores produtoras de carnes e frangos do país, BRFoods, dona das marcas Sadia e Perdigão, e Marfrig já avisaram que estão elevando em 5% a 10% os preços de seus produtos. Ainda que pareça pouco, o efeito é significativo no Brasil. “Como temos uma população com renda relativamente baixa, os itens alimentícios correspondem por parte significativa das cestas de consumo da população,” diz Rochlin.

Se indústria e consumidores sofrem, produtores brasileiros das commodities agrícolas terão o melhor ano em muito tempo, já que vão conseguir vender mais soja, milho e trigo para ajudar a suprir a falta de oferta norte-americana. “Eles vão exportar mais e aproveitar o momento para ganhar mais e se capitalizar,” diz Edgar Beauclair, professor da Esalq. No entanto, não devem fazer grandes investimentos para aumentar significativamente a produção. Ainda que o Brasil tenha 100 hectares – uma área superior à da França – de terra arável disponível (sem precisar destruir matas e protegendo todos os biomas), o problema da seca norte-americana é pontual – no ano que vem, as chuvas podem voltar -, então não se justifica fazer pesados investimentos para elevar o potencial de produção, diz o professor. “Antes de investir, os produtores querem políticas públicas mais claras no agronegócio, que lhes garanta retornos no futuro,” afirma Beauclair. O que eles devem fazer é, no máximo, aproveitar para modernizar algumas maquinas, segundo os especialistas, e priorizar o plantio do milho, por exemplo, em detrimento de outros grãos.

Apesar de o Brasil conseguir elevar suas exportações, o efeito não deve ser expressivo na cotação do dólar, segundo os professores. O governo brasileiro vem mostrando que pretende manter o preço da moeda dos EUA não muito diferente do atual, R$ 2. “Não podemos esquecer que esta é uma decisão estratégica do governo, e ele deve intervir para isso comprando dólares, se preciso,” diz Nogami. O dólar, portanto, diferentemente dos preços nos supermercados, não deve preocupar os brasileiros.

Fonte: IG Economia

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